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Unidades da JBS nos Estados Unidos e Austrália foram afetadas e já causam grandes problemas na cadeia de alimentação de seus países.
Não é sempre que a Casa Branca, sede oficial do poder executivo dos Estados Unidos, envolve-se em um ataque de Ransomware a uma empresa. Porém, quando a vítima é a responsável por quase 25% da produção de carne da nação, é necessário intervir – já que as consequências tomaram proporções gigantescas.
Dessa maneira, ontem a Casa Branca identificou oficialmente como um ataque de ransomware a invasão ocorrida na JBS, indústria brasileira que atua em 22 países de cinco continentes – e nos EUA é dona da JBS-Swift Foods Company. Desde então, surgiram relatórios sobre os impactos do desligamento dos sistemas de TI da empresa na América do Norte e Austrália.
A JBS, inclusive, divulgou um comunicado admitindo que alguns dos servidores que suportam seus sistemas de TI norte-americanos e australianos foram derrubados por um “ataque organizado à segurança cibernética”, que ocorreu no domingo. A companhia então fechou todos os sistemas afetados e contatou a Casa Branca na terça-feira, segundo nota da secretária de imprensa Karine Jean-Pierre.
Origem russa?
Segundo a executiva, a empresa chegou a receber um pedido de resgate de um grupo provavelmente sediado na Rússia. Entretanto, não há informações sobre a intenção da JBS pagar ou não o resgate, e o valor pedido segue sob sigilo.
“A Casa Branca está conversando diretamente com o governo russo sobre o assunto”, disse Jean-Pierre. Ela acrescentou que o Governo está trabalhando com o Departamento de Agricultura, o FBI e a CISA (Agência de Segurança Cibernética dos EUA) para ajudar a JBS.
Esse trabalho conjunto é necessário para evitar que o abastecimento de carne no país seja afetado de modo relevante pelo ataque. É que a empresa é a segunda maior processadora de carnes e aves dos Estados Unidos, e responde por quase um quarto de toda a carne bovina produzida no país – e também por 20% de toda a carne suína. Funcionários do governo australiano também estão trabalhando com a empresa para remediar o problema. Ou seja, o ataque ransomware pode comprometer a chegada da carne às prateleiras dos supermercados.
Consequências
A imprensa local informa que o ataque já é tão danoso que o Departamento de Agricultura não conseguiu divulgar os preços de atacado da carne bovina e suína, afetando milhares de players do mercado agrícola. Nos dados divulgados, as estimativas de abate diário de bovinos mostraram queda de 27 mil cabeças de gado em relação à semana passada. Só a JBS lida com cerca de 22.500 cabeças de gado por dia, segundo estimativas.
Contudo, quanto ao ataque em si, a JBS alega que os backups da empresa foram preservados, e que não há sinais de que dados de clientes, fornecedores ou funcionários tenham sido vazados. No entanto, os gestores admitiram que pode haver atrasos em determinadas transações com clientes e fornecedores.
Nesse contexto, a companhia foi forçada a fechar turnos em várias fábricas de processamento nos Estados Unidos e na Austrália, onde também é um dos maiores fornecedores de proteína suína e bovina. Em um comunicado, a JBS disse que estava fechando fábricas em Iowa, Utah, Colorado, Minnesota, Texas e Nebraska.
Preocupações extras
Entre os especialistas em segurança digital, a invasão também foi bastante debatida. Muitos deles mostravam preocupação com a evolução desse tipo de golpe, alertando que antes os ataques costumavam ser isolados, mas agora se transformaram em ações amplas. Há o receio de que esses cibercrimes se tornem ainda mais direcionados, com a intenção de deixar certas indústrias inoperantes por longos períodos de tempo.
Nesse contexto, o setor privado é levado a questionar e reavaliar sua abordagem de segurança cibernética, investindo em projetos de longa duração. O caso da JBS mostra que é necessário investir o tempo todo em proteção digital, evitando que as operações e as receitas sejam afetadas – ou até mesmo uma parte enorme de determinadas cadeias produtivas nacionais.
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